Que o morango do amor virou febre em poucas semanas, a gente já sabe. Teve gente atravessando a cidade atrás de quem vendesse. Teve morango custando R$ 50 a unidade. Teve até caixa “premium” com 8 unidades por R$ 2.000. Isso mesmo: dois mil reais em fruta com chocolate.
E não para por aí.
Segundo o UOL, os aluguéis para COP30 chegam a R$ 2 milhões para os 15 dias de evento. Tem apartamento com uma ou duas camas em diárias que custam de R$ 7.000 a R$ 40 mil.
A Voss vende água por mais de R$ 30 numa garrafa de vidro minimalista. Não é pela água, é pelo que ela representa. Ou tenta representar: luxo, status, sofisticação.
Mas… no fim, ainda é só água.
Até onde vai a criatividade empreendedora… e onde começa o puro oportunismo? Parece que, em nome do lucro, muita gente tem perdido a mão e o bom senso. Isso é branding bem feito ou um produto superestimado com uma boa narrativa?
Vivemos numa cultura onde o valor simbólico das coisas pesa mais que o valor prático. Marcas constroem desejo, status e diferenciação — tudo certo até aí. O problema é quando a promessa vira uma armadilha. Quando o storytelling grita mais alto que o produto. Quando o branding, que deveria dar clareza e consistência, vira um véu bonito que esconde o óbvio.
“Quando a estética grita mais alto que a experiência, o design não comunica: ele disfarça.”
E o mercado está percebendo. Segundo uma pesquisa da McKinsey & Company, 71% dos consumidores esperam que as marcas sejam autênticas e transparentes. Cerca de 45% dizem que já deixaram de comprar de empresas que consideraram “falsas” ou exageradas em sua comunicação.
Ainda assim, o que vemos? Marcas cobrando R$ 3.000 por uma camiseta básica, R$ 500 numa vela aromática ou R$ 80 numa barra de chocolate com sal do Himalaia. O discurso vem no pacote: feito à mão, edição limitada, ingredientes raros, curadoria global. Tudo isso pode ser verdade. Mas muitas vezes não é. E, quando é, raramente justifica o que se promete.
Segundo relatório da Vogue Business, cresce entre as novas gerações uma desconfiança generalizada em relação ao “luxo vazio”. A Geração Z, especialmente, já considera a autenticidade mais valiosa do que status. Marcas que constroem em cima de imagem, e não de entrega real, perdem relevância e espaço.
O problema não está em cobrar caro, e sim em cobrar caro por algo que, no fundo, não entrega mais nada além de aparência ou utilidade. Quando esse tipo de produto ou negócio vira "comum" o mercado inteiro sai perdendo. As marcas que constroem com intenção, clareza e propósito acabam pagando o preço da desconfiança coletiva.
E o consumidor, cansado de discursos vazios e promessas infladas, começa a duvidar até daquilo que é legítimo. É por isso que branding não é colocar um produto comum num pedestal. É entender com precisão o que o torna especial e sustentar isso com verdade, consistência e entrega.
É criar valor que vai além do rótulo. É transformar percepção em experiência real.
Porque branding de verdade não precisa fingir. Ele só precisa fazer sentido.
por
Gustavo Lima

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